Para o deputado Ernandes Amorim (PTB-RO), as passagens e diárias pagas com o dinheiro do contribuinte ainda não são suficientes para bancar os trabalhos dos parlamentares. Ele quer mais. Pleiteia a compra de um avião. Ou de um jato, “tipo Legacy”, como sugeriu (um modelo executivo não sai por menos de US$ 25 milhões, ou cerca de R$ 43,5 milhões). O pedido extravagante foi feito em requerimento entregue à Mesa Diretora da Casa em 16 de dezembro e defendido na tribuna do plenário. Segundo o parlamentar, a aeronave serviria a ele e aos 512 colegas, que, diz ele, não têm condições de se locomover para desenvolver os trabalhos das comissões nos estados.
Fica difícil visualizar a dificuldade a que o parlamentar se refere analisando as cifras dos gastos da Câmara com diárias e passagens. Desde o início da atual legislatura, em 2006, as despesas com passagens da Casa nunca ficaram abaixo dos R$ 70 milhões por ano, segundo números do portal Siga Brasil. Em 2009, dos R$ 78,9 milhões empenhados na rubrica, R$ 33,5 milhões haviam sido pagos até o fim do ano. Com diárias — usadas para bancar despesas com hospedagem e alimentação dos parlamentares e seus assessores — outro R$ 1,4 milhão foi gasto em 2009.
Ironicamente, a proposta foi feita pelo deputado oito meses após revelação de que os parlamentares promoviam uma verdadeira farra com a cota de passagens aéreas. Na Câmara, há deputados que tinham bancado, com dinheiro público, viagens para namoradas, amigos, celebridades e familiares. Miami, nos Estados Unidos, e Paris, na França, estavam entre os destinos prediletos.
Ainda assim, o deputado rondonense diz que é difícil para ele e os colegas levarem os trabalhos das comissões da Câmara até os seus estados. Mas ele deixa escapar um certo recalque ao defender a aquisição do avião dos deputados. “O Poder Legislativo é o mais rebaixado entre os poderes. Hoje em dia, qualquer empresário tem um avião. Por que a Câmara não pode ter?”, questiona. Ernandes Amorim diz ainda que, sempre que os parlamentares têm de se locomover, precisam “pedir esmolas” para a Força Aérea Brasileira (FAB). “Eles nunca podem nos atender”, reclama.
Resistências
A proposta do rondonense, no entanto, vai precisar vencer resistências. O primeiro-secretário da Câmara, deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), que vai analisar o requerimento de Amorim assim que voltar do recesso, já avisou que é “absolutamente contra a proposta”. Comunicado sobre a existência do pedido do colega de parlamento pela reportagem do Estado de Minas, respondeu: “Você está brincando comigo, né? Se eu compro um micro-ondas para a residência oficial (do presidente da Câmara), já me enchem, imagine se eu comprar um avião”, disse, acrescentando que a aquisição de um avião é desnecessária.
Amorim é um verdadeiro defensor da qualidade de vida dos parlamentares. “Quando fui quarto secretário do Senado, exigi a compra de carros novos”, lembrou. Em 2000, Amorim entrou para a história do país como o segundo senador a ser cassado pelo TSE. Ele foi condenado à perda de mandato por abuso de poder político e econômico nas eleições de 1994.
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