Número de professores insuficiente, desvalorização profissional, falta de formação e infraestrutura das escolas. Esse é o retrato da educação pública no Rio Grande do Norte na visão de quem a faz: os educadores. Com uma pauta de reivindicações sempre bem recheada, a categoria luta constantemente para manter o diálogo com o poder público, o que nem sempre acontece, e a partir daí surgem as greves.
Segundo dados do Sindicado dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte/RN), de 2000 a 2010, a categoria realizou oito paralisações no Estado e oito no município de Natal. A média é de quase uma greve por ano.
“A verdade é que nossas pautas são recorrentes e, quando temos os nossos direitos negados, temos que organizar uma reação coletiva para pressionar os gestores”, destacou a presidente do Sinte/RN, Fátima Cardoso.
De 2000 para cá, a rede estadual não realizou paralisações apenas nos anos de 2004 e 2006. Já a rede municipal não parou somente em 2000 e 2004.
A alta incidência de greves nas redes de ensino público no estado são reflexo de uma educação frágil, ineficiente e superficial, situação constatada pela série de reportagens “Educação no RN” veiculada durante esta semana no portal Nominuto.com.
Foto: Carla Cruz/Arquivo Nominuto
Fátima Cardoso enfatiza que a greve é a última ferramenta de negociação utilizada pelo sindicato.
No entanto, apesar das paralisações, Fátima Cardoso enfatiza que a greve é a última ferramenta de negociação utilizada pelo sindicato. “Não gostamos de greve, mas, em muitos casos, é a nossa única arma. Hoje, o papel do sindicato é, antes de tudo, lutar por uma educação melhor e fazer a população compreender o seu papel social”, explicou.
Atualmente o Sinte/RN prepara um documento no qual vai fazer um levantamento de todas as deficiências encontradas em nas escolas estaduais e municipais de Natal. Para tanto, o sindicato se dividiu e está visitando todas as escolas.
Para se ter uma ideia do conteúdo desse levantamento, Fátima Cardoso citou alguns dos problemas verificados Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) visitados durante a tarde desta quarta-feira (21), o Vilma Dutra, o Wilma de Faria e o Maria Ilca.
Foto: Isabela Santos
Banheiros interditados é um dos pontos levantados pela presidente do Sinte.
Entre os pontos levantados pela presidente do Sinte/RN, estão: banheiros interditados, merenda irregular, ausência de brinquedoteca, vasos sanitário quebrados, salas com infiltrações e mofadas, áreas de recreação irregulares e oferecendo riscos para as crianças.
Em casos mais extremos, existem CMEIs que dispõem de apenas um banheiro, dividido por educadores e crianças.
Pontos que, segundo Fátima Cardoso, são compartilhados pela maioria das unidades visitadas. “Veja bem, estamos falando de Centros de Educação Infantil voltados para crianças de até 5 anos e 11 meses. É uma realidade que não podemos conceber”, enfatizou a sindicalista.
Foto: Arquivo Nominuto
Problema da ausência de professores e a mais urgente no momento.
Já na rede estadual, Fátima destacou o problema da ausência de professores como o mais urgente no momento. Sobretudo em disciplinas como Física, Química e Matemática, o déficit é considerável. “A falta de professores é uma das maiores angústias do sindicato. Estamos pressionando o Estado para que realize o concurso público ainda este ano. Queremos entrar 2011 com o quadro de educadores completo”, comentou.
Mesmo assim, a sindicalista acredita que, em termos de conquistas profissionais, a rede estadual tem avançado mais que a municipal. Segundo ela, de 2008 para cá, a categoria conquistou 70% das reivindicações.
Já o Município, segundo ela, tem sido “resistente” no cumprimento de acordos firmados com a categoria. Pontos como o pagamento de vales transporte, pagamento de promoções de carreira, o envio da Lei de Redução de Jornada de Trabalho dos educadores infantis à Câmara Municipal do Natal, o não pagamento do terço de férias e da carga suplementar são apenas alguns dos assuntos que serão discutidos em uma assembleia marcada para o próximo dia 29.
No entanto, Fátima Cardoso é precisa em afirmar que tanto a educação estadual quanto a municipal ainda tem muito o que avançar para chegar no nível que se espera de uma educação pública de qualidade.
“O que percebemos é que não há um efetivo compromisso dos gestores públicos. O que há é uma ação a conta-gotas que não podemos mais aceitar”, enfatizou.
Foto: Elpídio Júnior
"O que percebemos é que não há um efetivo compromisso dos gestores públicos."
Já a sociedade, esta espera que a educação não seja novamente penalizada por paralisações como a de 2002 do Estado, e a de 2006 do Município, que duraram mais de 45 dias, prejudicando o ano letivo e o aprendizado dos alunos.
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