segunda-feira, 12 de julho de 2010

Tráfico passa a ser crime mais rentável e ganha interior do RN

Desigualdade social, desestruturação familiar, ambição e rentabilidade. A combinação desses elementos tem feito o tráfico de drogas e, mais precisamente o crack, tornar-se assunto principal da segurança pública no interior do Rio Grande do Norte.

Para a polícia, a compra e venda de drogas é hoje a prática criminosa mais lucrativa o que faz com que os bandidos se “profissionalizem” e até mudem de ramo.

O delegado Denys Carvalho, titular da Delegacia Especializada em Narcóticos, em Mossoró, explica que ao longo dos anos se observa uma mudança de comportamento. “Antigamente, nós tínhamos grandes quadrilhas de assaltantes de banco, por exemplo. Hoje, o tráfico é rentável e os criminosos estão enveredando para esse lado”.

De acordo com o delegado, o tráfico se tornou o “crime mãe” de todos os outros. “A partir dele, os bandidos começam a realizar pequenos furtos, assaltos e até mesmo homicídios”, destaca.

O mesmo pensamento é apontado pelo subsecretário de Segurança Pública e Defesa Social, delegado Ben-Hur Cirino de Medeiros. Ele comenta que os criminosos do século 21 passaram a ser ecléticos, cometendo todo tipo de delito e, a maioria, relacionado às drogas.

Foto:Divulgação / Sesed
Em Caicó, polícia apreendeu quase 160 quilos de droga na Operação Itans.

Em relação ao avanço do tráfico no interior do Rio Grande do Norte, o subsecretário ressalta que esse não é um problema apenas do Estado. Ben-Hur citou como exemplo a Operação Itans, deflagrada na última sexta-feira (9), quando 14 pessoas foram presas e quase 160 quilos de drogas apreendidas em Caicó.

Thyago Macedo
Delegado Ben-Hur, subsecretário de Segurança Pública do RN.
“Essa quadrilha era bem organizada, inclusive, com ramificações no Centro-Sul do Brasil. Pela quantidade de droga apreendida, conclui-se que eles estavam forte no interior”, revela. Contudo, o delegado Ben-Hur Cirino frisa que na maioria dos municípios, existem vários criminosos independentes que mantém suas próprias bocas de fumo sem depender dos “grandes traficantes”.

“Esse pessoal recebe droga vinda diretamente do Paraguai, por exemplo, claro que passando por estados do Centro-Sul que fazem a distribuição, mas, sem depender dos traficantes da Grande Natal”, afirma o subsecretário de Segurança Pública.

O titular da Denarc de Mossoró, delegado Denys Carvalho também aponta as fronteiras do Estado como ponto de entrada de drogas. “O traficante sempre tenta encontrar um caminho diferente para dificultar o trabalho da polícia. Com isso, a droga que abastece o interior vem de Pernambuco, Paraíba, Ceará e até mesmo do Acre”.

Em Mossoró, aliás, o delegado garante ter duplicado o número de prisões e apreensões e com ajuda da sociedade. "Nós conseguimos um disque denúncia (0800-281-3315), através de convênio com a Prefeitura e isso tem resultado em muitas denúncias e, consequentemente, ações.

Foto:Divulgação / Sesed

Denys Carvalho informa que a população não está mais tolerando os criminosos. “O povo está mais consciente e com repugnância ao tráfico de droga. Quando uma boca de fumo se instala em uma comunidade, logo em seguida começa a aumentar a quantidade de assaltos e furtos. Então, isso revolta a sociedade”.

Mesmo com as constantes operações e prisões no interior do Rio Grande do Norte, o tráfico de drogas está longe de ser controlado. A reportagem do Nominuto.com conversou com a doutora em sociologia Hilderline Câmara de Oliveira e ela explicou os efeitos da instabilidade social na vida de uma criança ou adolescente.

“Está faltando a expansão de políticas de prevenção, especificamente para crianças e adolescentes. Na maioria dessas cidades, não se tem o mínimo de estrutura para atender a população, o que se observa é desigualdade e má distribuição de renda”, avalia.

Para Hilderline Câmara, além da falta de oportunidade para os jovens a desestruturação familiar tem grande peso no avanço das drogas na sociedade. “O fato de ser pobre não significa que vai ser mau cidadão. Mas, hoje a família não é mais prioridade, não existe apoio. A maioria dos nossos adolescentes tem famílias desestruturadas. Além disso, não existem políticas de atendimento às famílias de pessoas envolvidas em crimes”.

Foto:Vlademir Alexandre

A socióloga falou também do papel da polícia. “Participo do curso de formação de policiais e posso dizer que temos uma grade curricular voltada para essa questão muito boa. Mas, infelizmente, tudo fica muito na teoria. É preciso por em prática a polícia cidadã”, comenta.
No minuto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário