Com a proximidade da segunda fase da campanha de imunização contra a Gripe A no Brasil, que vai se iniciar na segunda-feira (22), cresce nos meios de comunicação a polêmica a respeito da nova vacina. A campanha começou no dia 8 deste mês, mas voltada apenas para os profissionais da área de saúde. Só agora vai começar a abranger uma parcela mais ampla da população, voltando-se para gestantes, doentes crônicos e crianças que tenham entre seis meses e 2 anos de idade.
Na internet, emails e blogs alertam para o possível perigo de substâncias utilizadas na vacina. As chamadas “correntes” chegam até mesmo a citar doenças e casos de complicações de saúde em pessoas que teriam recebido a dose. Apesar disso, os especialistas e órgãos da área de saúde são unânimes em dizer que a imunização contra a gripe A deve sim ser feita e que a vacina não traz prejuízos à saúde.
O debate se estende às ruas. Há quem confie nas recomendações das instituições médicas, mas há também quem ainda tenha receio e, inclusive, prefira não se vacinar.
É o caso, por exemplo, da gestante Ana Maria Martins. Aos 26 anos, e grávida de 5 meses do seu primeiro filho, Ana diz não confiar na vacina. “Estou grávida, tenho medo que acabe prejudicando meu filho. Não conheço ninguém que tenha se vacinado, não sei quais os efeitos colaterais”, comentou.
Foto: Vlademir Alexandre
Ana faz parte do grupo de risco, que deve ser vacinado na próxima etapa da campanha, a partir desta segunda-feira (22). Também fazem parte do grupo: os indígenas que vivem em aldeias; os portadores de doenças crônicas, independente da idade; as crianças de 6 meses a 2 anos; e adultos entre 20 e 39 anos.
No entanto, para instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde Pública, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, a vacina deve sim ser tomada.
É o que comenta a subcoordenadora de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde, Juliana Araújo. “Toda vacinação pode causar dor local, febre baixa e dor de cabeça. Porém, a vacinação já foi aplicada em vários países e não se tem nenhum relato de efeito adverso de grande preocupação. Além do mais, o estado dispõe de uma equipe médica a postos para eventos adversos”, explicou.
Um dos emails começa da seguinte maneira: “NÃO TOME A VACINA! - Leia até o final, a decisão é sua!”. No corpo da mensagem, são enumerados oito motivos pelos quais as pessoas não devem se vacinar.
O texto acusa a presença de elementos como o mercúrio, esqualeno e até mesmo células cancerígenas na substância.
Para o médico infectologista Alexandre Motta Câmara, essas correntes não tem nenhum fundamento científico. “Eu próprio já me vacinei. Toda vacina tem algum grau – em geral muito pequeno – de potencial reação grave. Porém, o risco é infinitamente menor que a própria doença. O risco de não vacinar é substancialmente maior que o de vacinar-se”, alertou.
E completou. “Em geral, estas correntes estão repletas de ignorância e preconceito. Lamentavelmente, uma parcela das pessoas que as recebem não têm o bom senso de deletá-las e as reencaminham”, disse o Dr. Motta.
Juliana Araújo comenta ainda que a única contra-indicação da vacina é para pessoas sensíveis à substância do ovo. “No mais, é uma vacina segura, feita em laboratório estéril. As doses são distribuídas pelo Ministério da Saúde, através de dois laboratórios internacionais e do Butantan”, garantiu.
O governo brasileiro comprou 92 milhões de doses da vacina contra a gripe A. A estimativa do Ministério da Saúde é que se consiga imunizar pelo menos 80% desse contingente. A vacinação está acontecendo simultaneamente em todo o território nacional.
Para o Rio Grande do Norte, foram disponibilizadas 1 milhão e 600 mil doses.
Confira o cronograma de vacinação no Brasil:
O Ministério da Saúde (MS) disponibiliza, em seu site, a apresentação daestratégia nacional de enfrentamento da segunda onda da pandemia de gripe A (H1N1), com informações atualizadas sobre a situação da doença no Brasil e no Mundo, estratégias de vacinação, grupos prioritários, laboratórios fornecedores e critérios de distribuição das doses aos estados.
Veja a lista de doenças crônicas:
- Obesidade grau 3 - antiga obesidade mórbida (crianças; adolescentes e adultos);
- Doenças respiratórias crônicas desde a infância (exemplos: fibrose cística, displasia broncopulmonar);
- Asmáticos (formas graves);
- Doença pulmonar obstrutiva crônica e outras doenças crônicas com insuficiência respiratória;
- Doença neuromuscular com comprometimento da função respiratória (exemplo: distrofia neuromuscular);
- Imunodeprimidos (exemplos: pacientes em tratamento para aids e câncer ou portadores de doenças que debilitam o sistema imunológico);
- Diabetes mellitus;
- Doença hepática (exemplos: atresia biliar, cirrose, hepatite crônica com alteração da função hepática e/ou terapêutica antiviral);
- Doença renal (exemplo: insuficiência renal crônica, principalmente em pacientes com diálise);
- Doença hematológica (hemoglobinopatias);
- Pacientes menores de 18 anos com terapêutica contínua com salicilatos (exemplos: doença reumática auto-imune, doença de Kawasaki);
- Portadores da Síndrome Clínica de Insuficiência Cardíaca;
- Portadores de cardiopatia estrutural com repercussão clínica e/ou hemodinâmica (exemplos: hipertensão arterial pulmonar, valvulopatias, cardiopatia isquêmica com disfunção ventricular).
O MS esclareceu ainda, através de sua assessoria de imprensa, as dúvidas frequentes:
O que é influenza A, ou gripe suína?
É uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus A (H1N1). Assim como a gripe comum, a influenza A é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse, espirro e contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os sintomas podem aparecer 7 a 14 dias após a pessoa infectar-se pelo novo vírus.
Qual a diferença entre a gripe comum e a suína?
Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os sintomas são muito parecidos e se confundem: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Por isso, ao apresentar esses sintomas, procure o seu médico ou um posto de saúde.
O vírus da gripe é mais violento do que o da gripe comum? Qual mata mais?
Inicialmente, acreditava-se que o vírus A (H1N1) fosse mais patogênico do que o da gripe sazonal, comum. Porém, até o momento, ele não demonstrou ser mais violento ou mais mortal na população geral. A maioria das pessoas desenvolve a forma leve da doença e se recupera sem uso de medicamentos. Assim como na gripe comum, portadores de doenças crônicas, gestantes e crianças com menos de 2 anos são os mais vulneráveis. A principal diferença é que o vírus da gripe A tem potencial maior de causar doença grave em pessoas saudáveis de 20 a 39 anos. Em compensação, tem afetado menos as com mais de 60 anos.
Por que não vacinar toda a população?
A vacinação em massa não tem sentido por um motivo bem simples: a contenção de segunda onda da pandemia de gripe A não é mais possível em todo o mundo.
Por que vacinar as grávidas contra a gripe suína se normalmente não são vacinadas contra a gripe comum?
Não há nenhuma contraindicação à vacinação de gestantes contra a gripe comum. Acontece que as campanhas anuais priorizam a população de maior risco – a população de 60 anos ou mais. Já em relação à influenza A as gestantes são consideradas como grupo de risco. Relembramos que, em 2009, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram a forma grave da gripe A, 22% eram gestantes.
A vacina não oferece risco à grávida? E ao feto? Há risco de aborto?
Não há risco em vacinar grávidas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os laboratórios produtores, a vacina contra o vírus influenza A H1N1 é segura para a gestante. Também não há evidências de que possa causar aborto ou afetar o feto.
A vacina que será utilizada no Brasil é segura?
Sim. Ela já está em uso em outros países. Até o momento não foi observado neles a relação entre o uso da vacina e a ocorrência de efeitos adversos graves.A segurança da vacinação, porém, não depende apenas do imunizante. Está relacionada também à: 1) utilização de seringas e agulhas apropriadas; 2) adoção de procedimentos seguros no manuseio, no preparo e na administração da vacina, conforme normas técnicas estabelecidas; 3) conservação da vacina na temperatura adequada, conforme preconizado; qualidade da capacitação do pessoal envolvido, bem como da supervisão ao trabalho de vacinação. É fundamental, no entanto, o monitoramento de eventos adversos associados temporalmente à vacinação, para investigá-los.
Qual a incidência de efeitos colaterais da vacina?
A grande maioria apresenta os mesmos da vacina contra a gripe em idosos, são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que se resolvem em torno de 48 horas.
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